Palavras
Palavra dentro da qual estou a milhões
de anos é árvore.
Pedra também.
Eu tenho precedências para pedra.
Pássaro também.
Não posso ver nenhuma dessas palavras que
não leve um susto.
Andarilho também.
Não posso ver a palavra andarilho que
eu não tenha vontade de dormir debaixo
de uma árvore.
Que eu não tenha vontade de olhar com
espanto, de novo, aquele homem do saco
a passar como um rei de andrajos nos
arruados de minha aldeia.
E tem mais: as andorinhas,
pelo que sei, consideram os andarilhos
Como árvore.
Em: O fazedor de amanhecer
Manoel de Barros
Retrato do artista quando coisa
A maior riqueza
do homem
é sua incompletude.
Nesse ponto
sou abastado.
Palavras que me aceitam
como sou
— eu não aceito.
Não aguento ser apenas
um sujeito que abre
portas, que puxa
válvulas, que olha o
relógio, que compra pão
às 6 da tarde, que vai
lá fora, que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.
Perdoai. Mas eu
preciso ser Outros.
Eu penso
renovar o homem
usando borboletas.
Manoel de Barros
O fazedor de amanhecer
Sou leso em tratagens com máquina.
Tenho desapetite para inventar coisas prestáveis.
Em toda a minha vida só engenhei
3 máquinas
Como sejam:
Uma pequena manivela para pegar no sono.
Um fazedor de amanhecer
para usamentos de poetas
E um platinado de mandioca para o
fordeco de meu irmão.
Cheguei de ganhar um prêmio das indústrias
automobilísticas pelo Platinado de Mandioca.
Fui aclamado de idiota pela maioria
das autoridades na entrega do prêmio.
Pelo que fiquei um tanto soberbo.
E a glória entronizou-se para sempre
em minha existência.
Manoel de Barros
Memória
Amar o perdido
deixa confundido
este coração.
Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.
As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão
Mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão.
Carlos Drummond de Andrade
Lisboa
Braga / Portugal
Poema em Linha Reta
Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe — todos eles príncipes — na vida…
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos — mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.
(Trecho de Poema em Linha Reta, de Fernando Pessoa)
SIMBOLOGIA DO NATAL E IMPRECISÕES HISTÓRICAS
* Jô Drumond
O ser humano não é apenas um animal racional. Ele é, antes de tudo, um animal simbólico. Segundo o filósofo Ernst Cassirer, “o homem vive num universo simbólico constituído por uma rede de diversos fios que se tecem de maneira inextricável, como a linguagem, o mito, a arte e a religião. O homem não pode encarar a realidade de um modo imediato, não pode conhecê-la diretamente sem a intervenção deste universo simbólico.” Cassirer parte do princípio de que todos os animais possuem um sistema receptor (por meio do qual recebem estímulos externos) e um sistema efetor (por meio do qual reagem aos mesmos). No ser humano, entre esses dois sistemas há um intermediário; o sistema simbólico. Assim sendo, o termo “racional” não é suficiente para abarcar a amplitude da cultura humana. A racionalidade é apenas um dos traços do homo sapiens.
Todos os ritos de passagem são repletos de simbolismo. Os festejos de fim de ano trazem sempre mensagens de confraternização, de solidariedade, de paz, de harmonia, de amor e, sobretudo, de esperança num porvir auspicioso. Essa energia positiva envolve diferentes credos e raças, nos quatro cantos do mundo. A festividade do Natal traz, em seu bojo, uma enorme gama de mensagens positivas para toda a humanidade.
Cercado de mitos e de imprecisões históricas, esse evento ainda suscita controvérsias entre pesquisadores e historiadores. Segundo o grande intelectual Dr. José Augusto de Carvalho, devido a um erro no calendário romano-cristão, Jesus não teria nascido no ano I da era cristã, mas 4 ou 5 anos antes (a Santa Sé confirmou recentemente esse engano do calendário). Ele não teria tampouco nascido no dia 25 de dezembro (data que não consta na Bíblia), mas possivelmente em março, pois registra-se que era do signo de peixes. O estudioso afirma também que o dia 25 de dezembro foi fixado pela Igreja para celebrar o nascimento de Cristo, no ano 525, com o intuito de cristianizar as festas pagãs que se realizavam naquela época entre 22 e 25 de dezembro, em homenagem ao deus solar Mitra. Outra informação interessante é que os Reis Magos não eram reis, nem magos (mágicos). “Mago” era o nome que se dava aos sacerdotes da religião persa tidos por sábios e possuidores de dons divinos. Na verdade, os reis magos correspondem a uma bela metáfora mitológica. Representam simbolicamente as três raças humanas: Gaspar, da raça amarela, representa a Ásia, Melquior, da raça branca, representa a Europa, e Baltazar, da raça negra, representa a África. O 4º continente (Oceania) só foi descoberto bem depois, no século XVI.
As simbologias, as mitologias e as incertezas históricas não abalam o fervor dos fiéis. Eles continuam cultuando seus santos e cultivando seus sonhos, na esperança de melhores dias, no ensejo da troca de calendários. A cada novo ano, cada um segue sua via crucis em busca do “pássaro azul da felicidade”. A cada ano, os “melhores votos” se renovam per omnia saecula saeculorum.
FELIZ NATAL PARA TODOS
Jô Drumond
Dezembro de 2014
*Jô Drumond (Josina Nunes Drumond)
Membro de 3 Academias de Letras
(AFEMIL, AEL, AFESL) e do
Instituto Histórico (IHGES)
ORGULHO DE SER CAPIXABA
Elisa Lucinda
É manhã nova de primavera, acabo de pousar na cidade do Rio de Janeiro vinda das praias capixabas, abençoada por aquelas águas surpreendentes. Estive hospedada num hotel em Coqueiral de Aracruz em meio a aldeias indígenas à beira de um mar poderoso com umas línguas de areia, uma enseada mágica com ventos nos coqueirais e paisagens de doer o coração dos mais fracos. Viajei toda orgulhosa portando o buquê de rosas amarelas recebidas do hotel. Fiz fotos com muitos funcionários e recebi o carinho imenso que o fã capixaba me oferece. Meu pai me disse uma vez: “filha, o fã capixaba deve ser tratado a pão de ló”. Eu disse: mas pai, eu trato com muito amor meu fã daqui. E ele prosseguiu: “mas o fã do Espírito Santo é carente de ícone, minha filha.” Ele tem razão. Poderíamos ter contado com essa representatividade do Roberto Carlos se esse fator tivesse presença e relevância na condução da carreira do Rei. Infelizmente não é assim. O que vemos é que em todos os seus cruzeiros musicais, seus programas anuais na televisão há a grande ausência do Espírito Santo a esta soberana marca artística chamada Roberto Carlos. Quando vemos Ivete Sangalo, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Bethânia e outros baianos torna-se indismembrável a lembrança e a associação imediata com a Bahia. Os baianos fazem bem isso, desde o tempo das Chanchadas da Atlântida, quando numa cena Zé Trindade é ameaçado e diz: “vai começar o baianicídio.” Temos muito o que aprender com esses caras e tenho eu muito amor a devolver e a oferecer aos filhos do meu Estado que costumam me chamar de “orgulho capixaba”. Adoro. Fazia parte de meu sonho um dia representar essa pequena unidade da federação. Tão rica e ainda tão fraca no desenvolvimento das artes, apesar de ser um celeiro de bons artistas. O que temos são poucos mecanismos para que estes possam viver bem aqui de sua arte. Nesta crônica quero agradecer, beijar a mão desse fã especial, que me vê e fala: ela é daqui, ela é nossa. E canta o samba da Boa Vista quando eu passo. É inenarrável o que sinto, dá vontade de chorar.
O motivo de vir a Aracruz era a gravação de um comercial para uma rede de material de construção da qual sou garota propaganda. Tive a honra de ser dirigida por um entusiasta, um apaixonado, um fervoroso jovem profissional, capixaba já, uma vez que vem de Passagem de Minas mas aqui exerce sua profissão com amor imenso ao E.S, e vive com a família numa harmonia sincera, digna e rara, vale dizer. Falo de José Augusto Muleta, um cara inesquecível que trata o filme publicitário com a mesma paixão com que tratamos as ficções. Quando foi me orientar e me falar sobre o filme que gravaríamos, parecia que estava a falar de um romance; não lembrava e nada que estava no comando de uma peça publicitária. É claro que há outros diretores ótimos aqui. Aliás, um incentivo mais ousado às artes audiovisuais capixabas, com destaque especial para o cinema, e o crescimento da qualidade dos filmes publicitários, faz-se urgente. Cineasta, Muleta já finalizou seu longa, “A onda da vida”, e é um cara que não trabalha burocraticamente. É a segunda vez que filmamos juntos e a visão que ele tem do meu trabalho e do que este representa para nós é muito curiosa e perspicaz. Como cabe aos jovens sábios, ele exibe competência enquanto nutre o seu eterno olhar de aprendiz. Fiquei vendo nele o espelho de uma nova geração capixaba, fiquei sonhando nele como representante dos fãs de todas as idades. Na nossa conversa me falou com muito respeito de pessoas que ele admira, em especial, seus pais e os mais velhos. E o moleque de careta não tem nada. Abraçando sua garra e abrigando sua infinita capacidade de sonhar, eu, através de você nessa coluna, abraço todos os fãs, de verdade. Este abraço que dou agora aos fãs do meu querido e precioso E.S é invisível. Não se posta no Instagram, mas quer dizer: não desistam! Quer dizer que podemos ser grandes, quer dizer que devemos pensar bem na hora de votar para escolher que rumo que a gente quer tomar, quer dizer perdoem aqueles artistas que piram a cabeça pelo sucesso e o dinheiro e por isso desprezam os fãs, os motoristas, os recepcionistas, os que lavam as nossas toalhas no hotel e arrumam nossa cama e preparam, sem que saibamos seu nome, os lençóis do nosso sono. Não se deve confundir um artista com uma celebridade. Eu abraço os fãs e os artistas desta minha talentosa terra que, merece abrir mais trilhas para a sua arte e luto para que artistas como o Muleta, possam ser também, para nós e para outros, o orgulho capixaba.
Precisamos dar um sentido humano às nossas construções. E, quando o amor ao dinheiro, ao sucesso nos estiver deixando cegos, saibamos fazer pausas para olhar os lírios do campo e as aves do céu.
Érico Veríssimo
A arte de viver é simplesmente a arte de conviver ... simplesmente, disse eu? Mas como é difícil!
Mario Quintana
CANÇÃO MÍNIMA
No mistério do sem-fim
equilibra-se um planeta.
E, no planeta, um jardim,
e, no jardim, um canteiro;
no canteiro uma violeta,
e, sobre ela, o dia inteiro,
entre o planeta e o sem-fim,
a asa de uma borboleta.
Cecília Meirelles
Felicidade Clandestina
– Clarice Lispector
By admin | May 17, 2013
Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados. Tinha um busto enorme, enquanto nós todas ainda éramos achatadas. Como se não bastasse enchia os dois bolsos da blusa, por cima do busto, com balas. Mas possuía o que qualquer criança devoradora de histórias gostaria de ter: um pai dono de livraria.
Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para aniversário, em vez de pelo menos um livrinho barato, ela nos entregava em mãos um cartão-postal da loja do pai. Ainda por cima era de paisagem do Recife mesmo, onde morávamos, com suas pontes mais do que vistas. Atrás escrevia com letra bordadíssima palavras como “data natalícia” e “saudade”.
Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando balas com barulho. Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos imperdoavelmente bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos livres. Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na minha ânsia de ler, eu nem notava as humilhações a que ela me submetia: continuava a implorar-lhe emprestados os livros que ela não lia.
Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim uma tortura chinesa. Como casualmente, informou-me que possuía As reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato.
Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o. E completamente acima de minhas posses. Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria.
Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança da alegria: eu não vivia, eu nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam.
No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava num sobrado como eu, e sim numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo. Boquiaberta, saí devagar, mas em breve a esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a andar pulando, que era o meu modo estranho de andar pelas ruas de Recife. Dessa vez nem caí: guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei pulando pelas ruas como sempre e não caí nenhuma vez.
Mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da filha do dono de livraria era tranqüilo e diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o coração batendo. Para ouvir a resposta calma: o livro ainda não estava em seu poder, que eu voltasse no dia seguinte. Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do “dia seguinte” com ela ia se repetir com meu coração batendo.
E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo indefinido, enquanto o fel não escorresse todo de seu corpo grosso. Eu já começara a adivinhar que ela me escolhera para eu sofrer, às vezes adivinho. Mas, adivinhando mesmo, às vezes aceito: como se quem quer me fazer sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra.
Quanto tempo? Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia sequer. Às vezes ela dizia: pois o livro esteve comigo ontem de tarde, mas você só veio de manhã, de modo que o emprestei a outra menina. E eu, que não era dada a olheiras, sentia as olheiras se cavando sob os meus olhos espantados.
Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a sua recusa, apareceu sua mãe. Ela devia estar estranhando a aparição muda e diária daquela menina à porta de sua casa. Pediu explicações a nós duas. Houve uma confusão silenciosa, entrecortada de palavras pouco elucidativas. A senhora achava cada vez mais estranho o fato de não estar entendendo. Até que essa mãe boa entendeu. Voltou-se para a filha e com enorme surpresa exclamou: mas este livro nunca saiu daqui de casa e você nem quis ler!
E o pior para essa mulher não era a descoberta do que acontecia. Devia ser a descoberta horrorizada da filha que tinha. Ela nos espiava em silêncio: a potência de perversidade de sua filha desconhecida e a menina loura em pé à porta, exausta, ao vento das ruas de Recife. Foi então que, finalmente se refazendo, disse firme e calma para a filha: você vai emprestar o livro agora mesmo. E para mim: “E você fica com o livro por quanto tempo quiser. ”Entendem? Valia mais do que me dar o livro: pelo tempo que eu quisesse ” é tudo o que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer.
Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mão. Acho que eu não disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando como sempre. Saí andando bem devagar. Sei que segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra o peito. Quanto tempo levei até chegar em casa, também pouco importa. Meu peito estava quente, meu coração pensativo.
Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre iria ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar… havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada.
Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo.
Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante.
Caminante No Hay Camino
Joan Manoel Serrat
Todo pasa y todo queda
Pero lo nuestro es pasar
Pasar haciendo caminos
Caminos sobre la mar
Nunca perseguí la gloria
Ni dejar en la memoria
De los hombres mi canción
Yo amo los mundos sutiles
Ingrávidos y gentiles
Como pompas de jabón
Me gusta verlos pintarse de sol y grana
Volar bajo el cielo azul
Temblar súbitamente y quebrarse
Nunca perseguí la gloria
Caminante son tus huellas el camino y nada más
Caminante, no hay camino se hace camino al andar
Al andar se hace camino
Y al volver la vista atrás
Se ve la senda que nunca
Se ha de volver a pisar
Caminante no hay camino sino estelas en la mar
Hace algún tiempo en ese lugar
Donde hoy los bosques se visten de espinos
Se oyó la voz de un poeta gritar
Caminante no hay camino, se hace camino al andar
Golpe a golpe, verso a verso
Murió el poeta lejos del hogar
Le cubre el polvo de un país vecino
Al alejarse, le vieron llorar
Caminante, no hay camino, se hace camino al andar
Golpe a golpe, verso a verso
Cuando el jilguero no puede cantar
Cuando el poeta es un peregrino
Cuando de nada nos sirve rezar
Caminante no hay camino, se hace camino al andar
Golpe a golpe y verso a verso
Y golpe a golpe, verso a verso
Y golpe a golpe, verso a verso
Imagem meramente ilustrativa
Viajando...
Bem próximo do Natal eu estava na rodoviária quando ouvi atrás de mim:-" Tô com meu alvará de soltura e vou passar o Natal com minha irmã."
Ônibus chegou, apresentei passagem, documentação e entrei sentando-me na poltrona onze, janela. O rapaz que estava com o alvará sentou-se ao meu lado na poltrona doze. Eu que estava passando uma mensagem por celular, cautelosa, inicio meu gesto de guardá-lo na bolsa e ele com voz simpática e natural me diz:" Lá no presídio não temos direito a ter um celular, mas já mexi em um desses e é muito legal, o seu é o mais bonito que já vi." Era início da era das mensagens por celular.
Instintivamente eu estava em uma situação de receio mas queria parecer uma pessoa sem medo e preconceito e agir de forma natural, até porque o ônibus estava lotado e não tinha como mudar de lugar.
Resolvi tentar relaxar e olhei para o rapaz que me olhava diretamente, com olhar franco, tranquilizador e um leve e bonito sorriso com jeito muito cativante.
Começou a conversar e falou, mais uma vez , que ia para a casa da irmã passar o Natal e mostrou-me o alvará de soltura. Para não parecer mal educada , peguei o documento e li. Era o tipo do documento que nunca tinha visto antes em minha vida! li e devolvi. Ele guardou no bolso da bermuda imensamente larga para ele e a camisa também, porém tudo bem limpo e me disse que na prisão eles não tinham roupa própria pegavam a que havia lá quando saiam.
Resolveu contar-me sua história que não é muito diferente de tantas outras. Morando no interior, apareceu a oportunidade de fazer um favor para um amigo e em troca receberia algum dinheiro. Tarefa simples, trazer um carro do Rio de Janeiro para sua cidade. Foi parado na estrada e descobriu-se um carregamento de droga no carro. Não me contou se sabia o que transportava. Foi preso, condenado e pegou poucos anos de prisão. Estando lá dentro, com o passar do tempo, houve uma rebelião e, como ele me disse "ou você participa ou então é torturado e até mesmo aparece morto". Com isso a pena aumentou mais alguns anos! Perguntei se lá ele tinha algum trabalho ou distração. Disse-me que trabalhava na cozinha e as vezes pequenos serviços de carpintaria.
Mas o que ele gostava era da pequena biblioteca e que passava bom tempo lendo e que os livros eram, alguns de literatura e outros como me disse "de lições de vida". Contou-me que estava na rodoviária desde às 11 horas da noite anterior e pegamos o ônibus às 8:30 da manhã! Não havia comido nada desde então por não ter nem um centavo no bolso. O seu hálito confirmava isso. A viagem prosseguiu e ele por ter encontrado quem o ouvisse foi contando sobre os livros que lia, da família, dessa irmã que ele gostava muito, dos sobrinhos e outras historias de colegas da prisão.
Quando o ônibus fez parada para o almoço ele gentilmente levantou-se para que eu pudesse sair e de forma cavalheiresca se inclinou um pouco e voltou a sentar em seu lugar. Imediatamente eu o convidei para almoçar. Ele disse que não pois não tinha como pagar. Respondi que jamais poderia almoçar em uma churrascaria tão boa e pensando nele com fome! para que ficasse mais à vontade deu uma quantia que sabia dar para fazer um ótimo prato naquele local. Fui me servir e ele também, sentei-me em uma mesa e ele veio sentar-se, pedi uma coca cola e ele também. Comecei comer e o vi com o copo de vidro elevado e me explicou que admirava a beleza e transparência daquele vidro! que ha muitos anos não punha nas mãos um copo de vidro, refrigerante, prato de porcelana, garfo e faca. Estava realmente emocionado. Para dissimular minha perturbação disse que comesse antes que esfriasse. Quando voltamos ao ônibus, mais uma vez educadamente, esperou-me na porta, deu-me a entrada e seguiu logo atrás para tomarmos assento.
Ele desceria em uma cidade antes da minha e quando não faltava muito para a cidade dele, resolveu contar-me uma das histórias de um livro "de lições de vida". Ele contou com suas palavras mas de forma muito clara o caso.
Passado alguns meses encontrei a história na internet e aqui está tal qual ele me contou.
ESTRELAS AO MAR.
Era uma vez um escritor que morava em uma praia tranquila, próximo a uma colônia de pescadores.
Todas as manhãs ele caminhava à beira do mar para se inspirar e, à tarde, ficava em casa escrevendo.
Certo dia, caminhando pela praia, viu um vulto ao longe que parecia dançar. Ao chegar perto, reparou que se tratava de um jovem que recolhia estrelas-do-mar da areia, para, uma a uma, jogá-las de volta ao oceano, para além de onde as ondas quebravam. "Por que você está fazendo isto?", perguntou o escritor. "Você não vê?", explicou o jovem, que alegremente continuava a apanhar e jogar as estrelas ao mar, "A maré está vazando e o sol está brilhando forte... elas irão ressecar e morrer se ficarem aqui na areia." O escritor espantou-se com a resposta e disse com paciência: "Meu jovem, existem milhares de estrelas-do-mar espalhadas pela praia. Você joga algumas poucas de volta ao oceano, mas a maioria vai perecer de qualquer jeito. De que adianta tanto esforço, não vai fazer diferença?" O jovem se abaixou e apanhou mais uma estrela na praia, sorriu para o escritor e disse: "Para esta aqui faz....", e jogou-a de volta ao mar. Naquela noite o escritor não conseguiu escrever, nem sequer dormir. Pela manhã, voltou à praia, procurou o jovem, uniu-se a ele, e, juntos, começaram a jogar estrelas-do-mar de volta ao mar.
Ele me olhou firmemente e disse:- Para aquelas estrelas fez muita diferença!
Logo depois desceu na cidade dele, agradeceu, e lá de fora ainda me deu um adeus.
Zilca Mérida Pineda
A ORIGEM DA FÉ
Jô Drumond
Sempre me intrigou o fato de que pessoas de uma mesma família, criadas sob os mesmos preceitos religiosos, no mesmo tempo e espaço, possam tomar caminhos totalmente opostos, no que concerne à fé. Desde sempre, há os que, sem questionamento algum, acreditam piamente em tudo que lhes é inculcado pela religião, na infância, e outros que questionam tudo e não acreditam em nada. Uns acreditam que o homem foi criado por deus; outros acreditam que deus foi criado pelo homem.
Sabe-se que ter fé corresponde a acreditar em algo que não se pode provar. Sabe-se também que as pessoas mais intuitivas carregam consigo grande carga de misticismo. Elas têm tendência a acreditar em tudo que se relaciona ao sobrenatural: divindades, dogmas, milagres, alma, vida pós-morte, fantasmas, macumbas, e assim por diante. Por outro lado, pessoas reflexivas tendem ao racionalismo. Preferem o preto no branco. Não se deixam levar por nenhum tipo de crendice. A fé ou a falta de fé seria inerente ao ser?
Outro dia, encontrei a resposta, ao folhear a revista Veja* (vol. 2449 – ano 48 – nº43, de 28-10-2015), num artigo sobre a origem da fé, assinado por Adriana Dias Lopes.
Segundo consta, pesquisadores da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, afirmam que as pessoas intuitivas são mais religiosas que as reflexivas. As de raciocínio lógico têm dificuldade em acreditar em algo impreciso. Tal afirmação fundamenta-se no resultado de testes aplicados em cerca de
1200 voluntários, na faixa etária de 30 anos.
Outro dado ainda mais interessante, na mesma matéria: o cientista americano Dean Hamer, coordenador do setor de genética do National Cancer Institute, após ter avaliado o grau de espiritualidade em mil pessoas, detectou uma extraordinária coincidência:
“aqueles que tinham sentimentos religiosos compartilhavam o gene VMAT2, responsável pela regulação das chamadas monoaminas, grupo de compostos que incluem a adrenalina (substância excitante) e a serotonina (sensação de prazer). As monoaminas têm papel importante na construção da realidade e na percepção das alterações da consciência, situações comuns em experiências místicas”. (pg.86)
Sua descoberta leva a crer que a fé religiosa é involuntária; depende simplesmente de um gene. Donde se conclui que um cético, oriundo de um meio extremamente religioso, não precisa mais se sentir a “ovelha negra da família”.
Isso já havia sido demonstrado bem antes, no século XIX, num clássico da literatura universal. Servidão humana, de William Somerset Maugham. Philip, personagem principal do livro, órfão desde tenra idade, foi criado dentro de um vicariato, por seu tio, pastor da igreja local. O tutor fez questão de inculcar no garoto tudo que se fizesse necessário, no intuito de que, um dia, ele viesse a ser seu sucessor. Na juventude, num internato religioso, Philip começa a refletir sobre sua vocação. Decide abandonar o liceu, deixa de crer em tudo e ganha o mundo. Tal decisão lhe tira um peso nos ombros, despojando-o da responsabilidade que carregava em cada um de seus atos, para a salvação de sua alma. Ao se livrar de tais amarras, experimentou uma viva sensação de liberdade. O narrador deixa claro que religião é questão de temperamento. Se a pessoa tiver o espírito inclinado para ela, acreditará em todos os ensinamentos religiosos. Caso contrário, nada adiantará. Um dia ela acabará se afastando desses ensinamentos.
Vê-se que, coincidentemente, o pensador Maugham, nascido em 1874, afirma, por meio da ficção, o que o pesquisador Hamer afirma, pela ciência, em 2015. O fato de ter ou não ter fé independe do indivíduo.
Seja como for, o ser humano, único animal consciente de sua finitude, e único com capacidade de questionar o sentido da vida, sente necessidade de recorrer a algo maior, imponderável, para justificar sua existência. Muitos deles passam a vida tentando explicar o inexplicável. Alguns se apoiam no conformismo religioso; outros veem , com indignação, a falta de sentido da existência.
Finalizo com uma citação do Papa Francisco, que, com extraordinária lucidez e coragem, assume a postura de não apartar religião e ciência: “Sobre muitas questões concretas, a Igreja não tem motivo para propor uma palavra definitiva; deve escutar e promover o debate honesto entre os cientistas, respeitando a diversidade de opiniões.”
*Jô Drumond (Josina Nunes Drumond)
Membro de 3 Academias de Letras (AFEMIL, AEL, AFESL)e do Instituto Histórico (IHGES)
Ler um bom livro é como conversar com as melhores mentes do passado...
Meu Ideal Seria Escrever...
Meu ideal seria escrever uma história tão engraçada que aquela moça que está doente naquela casa cinzenta quando lesse minha história no jornal risse, risse tanto que chegasse a chorar e dissesse -- "ai meu Deus, que história mais engraçada!". E então a contasse para a cozinheira e telefonasse para duas ou três amigas para contar a história; e todos a quem ela contasse rissem muito e ficassem alegremente espantados de vê-la tão alegre. Ah, que minha história fosse como um raio de sol, irresistivelmente louro, quente, vivo, em sua vida de moça reclusa, enlutada, doente. Que ela mesma ficasse admirada ouvindo o próprio riso, e depois repetisse para si própria -- "mas essa história é mesmo muito engraçada!".
Que um casal que estivesse em casa mal-humorado, o marido bastante aborrecido com a mulher, a mulher bastante irritada com o marido, que esse casal também fosse atingido pela minha história. O marido a leria e começaria a rir, o que aumentaria a irritação da mulher. Mas depois que esta, apesar de sua má vontade, tomasse conhecimento da história, ela também risse muito, e ficassem os dois rindo sem poder olhar um para o outro sem rir mais; e que um, ouvindo aquele riso do outro, se lembrasse do alegre tempo de namoro, e reencontrassem os dois a alegria perdida de estarem juntos.
Que nas cadeias, nos hospitais, em todas as salas de espera a minha história chegasse -- e tão fascinante de graça, tão irresistível, tão colorida e tão pura que todos limpassem seu coração com lágrimas de alegria; que o comissário do distrito, depois de ler minha história, mandasse soltar aqueles bêbados e também aqueles pobres mulheres colhidas na calçada e lhes dissesse -- "por favor, se comportem, que diabo! Eu não gosto de prender ninguém!" . E que assim todos tratassem melhor seus empregados, seus dependentes e seus semelhantes em alegre e espontânea homenagem à minha história.
E que ela aos poucos se espalhasse pelo mundo e fosse contada de mil maneiras, e fosse atribuída a um persa, na Nigéria, a um australiano, em Dublin, a um japonês, em Chicago -- mas que em todas as línguas ela guardasse a sua frescura, a sua pureza, o seu encanto surpreendente; e que no fundo de uma aldeia da China, um chinês muito pobre, muito sábio e muito velho dissesse: "Nunca ouvi uma história assim tão engraçada e tão boa em toda a minha vida; valeu a pena ter vivido até hoje para ouvi-la; essa história não pode ter sido inventada por nenhum homem, foi com certeza algum anjo tagarela que a contou aos ouvidos de um santo que dormia, e que ele pensou que já estivesse morto; sim, deve ser uma história do céu que se filtrou por acaso até nosso conhecimento; é divina".
E quando todos me perguntassem -- "mas de onde é que você tirou essa história?" -- eu responderia que ela não é minha, que eu a ouvi por acaso na rua, de um desconhecido que a contava a outro desconhecido, e que por sinal começara a contar assim: "Ontem ouvi um sujeito contar uma história...".
E eu esconderia completamente a humilde verdade: que eu inventei toda a minha história em um só segundo, quando pensei na tristeza daquela moça que está doente, que sempre está doente e sempre está de luto e sozinha naquela pequena casa cinzenta de meu bairro.
Machado de Assis
A IGREJA DO DIABO
CAPÍTULO I
DE UMA IDÉIA MIRÍFICA
Conta um velho manuscrito beneditino que o Diabo, em certo dia, teve a idéia de fundar uma igreja. Embora os seus lucros fossem contínuos e grandes, sentia-se humilhado com o papel avulso que exercia desde séculos, sem organização, sem regras, sem cânones, sem ritual, sem nada. Vivia, por assim dizer, dos remanescentes divinos, dos descuidos e obséquios humanos. Nada fixo, nada regular. Por que não teria ele a sua igreja? Uma igreja do Diabo era o meio eficaz de combater as outras religiões, e destruí-las de uma vez.
- Vá, pois, uma igreja, concluiu ele. Escritura contra Escritura, breviário contra breviário. Terei a minha missa, com vinho e pão à farta, as minhas prédicas, bulas, novenas e todo o demais aparelho eclesiástico. O meu credo será o núcleo universal dos espíritos, a minha igreja uma tenda de Abraão. E depois, enquanto as outras religiões se combatem e se dividem, a minha igreja será única; não acharei diante de mim, nem Maomé, nem Lutero. Há muitos modos de afirmar; há só um de negar tudo.
Dizendo isto, o Diabo sacudiu a cabeça e estendeu os braços, com um gesto magnífico e varonil. Em seguida, lembrou-se de ir ter com Deus para comunicar-lhe a idéia, e desafiá-lo; levantou os olhos, acesos de ódio, ásperos de vingança, e disse consigo: - Vamos, é tempo. E rápido, batendo as asas, com tal estrondo que abalou todas as províncias do abismo, arrancou da sombra para o infinito azul.
II
ENTRE DEUS E O DIABO
Deus recolhia um ancião, quando o Diabo chegou ao céu. Os serafins que engrinaldavam o recém-chegado, detiveram-no logo, e o Diabo deixou-se estar à entrada com os olhos no Senhor.
- Que me queres tu? perguntou este.
- Não venho pelo vosso servo Fausto, respondeu o Diabo rindo, mas por todos os Faustos do século e dos séculos.
- Explica-te.
- Senhor, a explicação é fácil; mas permiti que vos diga: recolhei primeiro esse bom velho; dai-lhe o melhor lugar, mandai que as mais afinadas cítaras e alaúdes o recebam com os mais divinos coros...
- Sabes o que ele fez? perguntou o Senhor, com os olhos cheios de doçura.
- Não, mas provavelmente é dos últimos que virão ter convosco. Não tarda muito que o céu fique semelhante a uma casa vazia, por causa do preço, que é alto. Vou edificar uma hospedaria barata; em duas palavras, vou fundar uma igreja. Estou cansado da minha desorganização, do meu reinado casual e adventício. É tempo de obter a vitória final e completa. E então vim dizer-vos isto, com lealdade, para que me não acuseis de dissimulação... Boa idéia, não vos parece?
- Vieste dizê-la, não legitimá-la, advertiu o Senhor,
- Tendes razão, acudiu o Diabo; mas o amor-próprio gosta de ouvir o aplauso dos mestres. Verdade é que neste caso seria o aplauso de um mestre vencido, e uma tal exigência... Senhor, desço à terra; vou lançar a minha pedra fundamental.
- Vai
- Quereis que venha anunciar-vos o remate da obra?
- Não é preciso; basta que me digas desde já por que motivo, cansado há tanto da tua desorganização, só agora pensaste em fundar uma igreja?
O Diabo sorriu com certo ar de escárnio e triunfo. Tinha alguma idéia cruel no espírito, algum reparo picante no alforje da memória, qualquer coisa que, nesse breve instante da eternidade, o fazia crer superior ao próprio Deus. Mas recolheu o riso, e disse:
- Só agora concluí uma observação, começada desde alguns séculos, e é que as virtudes, filhas do céu, são em grande número comparáveis a rainhas, cujo manto de veludo rematasse em franjas de algodão. Ora, eu proponho-me a puxá-las por essa franja, e trazê- las todas para minha igreja; atrás delas virão as de seda pura...
- Velho retórico! murmurou o Senhor.
- Olhai bem. Muitos corpos que ajoelham aos vossos pés, nos templos do mundo, trazem as anquinhas da sala e da rua, os rostos tingem-se do mesmo pó, os lenços cheiram aos mesmos cheiros, as pupilas centelham de curiosidade e devoção entre o livro santo e o bigode do pecado. Vede o ardor, - a indiferença, ao menos, - com que esse cavalheiro põe em letras públicas os benefícios que liberalmente espalha, - ou sejam roupas ou botas, ou moedas, ou quaisquer dessas matérias necessárias à vida... Mas não quero parecer que me detenho em coisas miúdas; não falo, por exemplo, da placidez com que este juiz de irmandade, nas procissões, carrega piedosamente ao peito o vosso amor e uma comenda... Vou a negócios mais altos...
Nisto os serafins agitaram as asas pesadas de fastio e sono. Miguel e Gabriel fitaram no Senhor um olhar de súplica, Deus interrompeu o Diabo.
- Tu és vulgar, que é o pior que pode acontecer a um espírito da tua espécie, replicou-lhe o Senhor. Tudo o que dizes ou digas está dito e redito pelos moralistas do mundo. É assunto gasto; e se não tens força, nem originalidade para renovar um assunto gasto, melhor é que te cales e te retires. Olha; todas as minhas legiões mostram no rosto os sinais vivos do tédio que lhes dás. Esse mesmo ancião parece enjoado; e sabes tu o que ele fez?
- Já vos disse que não.
- Depois de uma vida honesta, teve uma morte sublime. Colhido em um naufrágio, ia salvar-se numa tábua; mas viu um casal de noivos, na flor da vida, que se debatiam já com a morte; deu-lhes a tábua de salvação e mergulhou na eternidade. Nenhum público: a água e o céu por cima. Onde achas aí a franja de algodão?
- Senhor, eu sou, como sabeis, o espírito que nega.
- Negas esta morte?
- Nego tudo. A misantropia pode tomar aspecto de caridade; deixar a vida aos outros, para um misantropo, é realmente aborrecê-los...
- Retórico e sutil! exclamou o Senhor. Vai; vai, funda a tua igreja; chama todas as virtudes, recolhe todas as franjas, convoca todos os homens... Mas, vai! vai!
Debalde o Diabo tentou proferir alguma coisa mais. Deus impusera-lhe silêncio; os serafins, a um sinal divino, encheram o céu com as harmonias de seus cânticos. O Diabo sentiu, de repente, que se achava no ar; dobrou as asas, e, como um raio, caiu na terra.
Ill
A BOA NOVA AOS HOMENS
Uma vez na terra, o Diabo não perdeu um minuto. Deu-se pressa em enfiar a cogula beneditina, como hábito de boa fama, e entrou a espalhar uma doutrina nova e extraordinária, com uma voz que reboava nas entranhas do século. Ele prometia aos seus discípulos e fiéis as delícias da terra, todas as glórias, os deleites mais íntimos. Confessava que era o Diabo; mas confessava-o para retificar a noção que os homens tinham dele e desmentir as histórias que a seu respeito contavam as velhas beatas.
- Sim, sou o Diabo, repetia ele; não o Diabo das noites sulfúreas, dos contos soníferos, terror das crianças, mas o Diabo verdadeiro e único, o próprio gênio da natureza, a que se deu aquele nome para arredá-lo do coração dos homens. Vede-me gentil a airoso. Sou o vosso verdadeiro pai. Vamos lá: tomai daquele nome, inventado para meu desdouro, fazei dele um troféu e um lábaro, e eu vos darei tudo, tudo, tudo, tudo, tudo, tudo...
Era assim que falava, a princípio, para excitar o entusiasmo, espertar os indiferentes, congregar, em suma, as multidões ao pé de si. E elas vieram; e logo que vieram, o Diabo passou a definir a doutrina. A doutrina era a que podia ser na boca de um espírito de negação. Isso quanto à substância, porque, acerca da forma, era umas vezes sutil, outras cínica e deslavada.
Clamava ele que as virtudes aceitas deviam ser substituídas por outras, que eram as naturais e legítimas. A soberba, a luxúria, a preguiça foram reabilitadas, e assim também a avareza, que declarou não ser mais do que a mãe da economia, com a diferença que a mãe era robusta, e a filha uma esgalgada. A ira tinha a melhor defesa na existência de Homero; sem o furor de Aquiles, não haveria a Ilíada: "Musa, canta a cólera de Aquiles, filho de Peleu"... O mesmo disse da gula, que produziu as melhores páginas de Rabelais, e muitos bons versos do Hissope; virtude tão superior, que ninguém se lembra das batalhas de Luculo, mas das suas ceias; foi a gula que realmente o fez imortal. Mas, ainda pondo de lado essas razões de ordem literária ou histórica, para só mostrar o valor intrínseco daquela virtude, quem negaria que era muito melhor sentir na boca e no ventre os bons manjares, em grande cópia, do que os maus bocados, ou a saliva do jejum? Pela sua parte o Diabo prometia substituir a vinha do Senhor, expressão metafórica, pela vinha do Diabo, locução direta e verdadeira, pois não faltaria nunca aos seus com o fruto das mais belas cepas do mundo. Quanto à inveja, pregou friamente que era a virtude principal, origem de prosperidades infinitas; virtude preciosa, que chegava a suprir todas as outras, e ao próprio talento.
As turbas corriam atrás dele entusiasmadas. O Diabo incutia-lhes, a grandes golpes de eloqüência, toda a nova ordem de coisas, trocando a noção delas, fazendo amar as perversas e detestar as sãs.
Nada mais curioso, por exemplo, do que a definição que ele dava da fraude. Chamava-lhe o braço esquerdo do homem; o braço direito era a força; e concluía: muitos homens são canhotos, eis tudo. Ora, ele não exigia que todos fossem canhotos; não era exclusivista. Que uns fossem canhotos, outros destros; aceitava a todos, menos os que não fossem nada. A demonstração, porém, mais rigorosa e profunda, foi a da venalidade. Um casuísta do tempo chegou a confessar que era um monumento de lógica. A venalidade, disse o Diabo, era o exercício de um direito superior a todos os direitos. Se tu podes vender a tua casa, o teu boi, o teu sapato, o teu chapéu, coisas que são tuas por uma razão jurídica e legal, mas que, em todo caso, estão fora de ti, como é que não podes vender a tua opinião, o teu voto, a tua palavra, a tua fé, coisas que são mais do que tuas, porque são a tua própria consciência, isto é, tu mesmo? Negá-lo é cair no obscuro e no contraditório. Pois não há mulheres que vendem os cabelos? não pode um homem vender uma parte do seu sangue para transfundi-lo a outro homem anêmico? e o sangue e os cabelos, partes físicas, terão um privilégio que se nega ao caráter, à porção moral do homem? Demonstrando assim o princípio, o Diabo não se demorou em expor as vantagens de ordem temporal ou pecuniária; depois, mostrou ainda que, à vista do preconceito social, conviria dissimular o exercício de um direito tão legítimo, o que era exercer ao mesmo tempo a venalidade e a hipocrisia, isto é, merecer duplicadamente. E descia, e subia, examinava tudo, retificava tudo. Está claro que combateu o perdão das injúrias e outras máximas de brandura e cordialidade. Não proibiu formalmente a calúnia gratuita, mas induziu a exercê-la mediante retribuição, ou pecuniária, ou de outra espécie; nos casos, porém, em que ela fosse uma expansão imperiosa da força imaginativa, e nada mais, proibia receber nenhum salário, pois equivalia a fazer pagar a transpiração. Todas as formas de respeito foram condenadas por ele, como elementos possíveis de um certo decoro social e pessoal; salva, todavia, a única exceção do interesse. Mas essa mesma exceção foi logo eliminada, pela consideração de que o interesse, convertendo o respeito em simples adulação, era este o sentimento aplicado e não aquele.
Para rematar a obra, entendeu o Diabo que lhe cumpria cortar por toda a solidariedade humana. Com efeito, o amor do próximo era um obstáculo grave à nova instituição. Ele mostrou que essa regra era uma simples invenção de parasitas e negociantes insolváveis; não se devia dar ao próximo senão indiferença; em alguns casos, ódio ou desprezo. Chegou mesmo à demonstração de que a noção de próximo era errada, e citava esta frase de um padre de Nápoles, aquele fino e letrado Galiani, que escrevia a uma das marquesas do antigo regímen: "Leve a breca o próximo! Não há próximo!" A única hipótese em que ele permitia amar ao próximo era quando se tratasse de amar as damas alheias, porque essa espécie de amor tinha a particularidade de não ser outra coisa mais do que o amor do indivíduo a si mesmo. E como alguns discípulos achassem que uma tal explicação, por metafísica, escapava à compreensão das turbas, o Diabo recorreu a um apólogo: - Cem pessoas tomam ações de um banco, para as operações comuns; mas cada acionista não cuida realmente senão nos seus dividendos: é o que acontece aos adúlteros. Este apólogo foi incluído no livro da sabedoria.
IV
FRANJAS E FRANJAS
A previsão do Diabo verificou-se. Todas as virtudes cuja capa de veludo acabava em franja de algodão, uma vez puxadas pela franja, deitavam a capa às urtigas e vinham alistar-se na igreja nova. Atrás foram chegando as outras, e o tempo abençoou a instituição. A igreja fundara-se; a doutrina propagava-se; não havia uma região do globo que não a conhecesse, uma língua que não a traduzisse, uma raça que não a amasse. O Diabo alçou brados de triunfo.
Um dia, porém, longos anos depois, notou o Diabo que muitos dos seus fiéis, às escondidas, praticavam as antigas virtudes. Não as praticavam todas, nem integralmente, mas algumas, por partes, e, como digo, às ocultas. Certos glutões recolhiam-se a comer frugalmente três ou quatro vezes por ano, justamente em dias de preceito católico; muitos avaros davam esmolas, à noite, ou nas ruas mal povoadas; vários dilapidadores do erário restituíam-lhe pequenas quantias; os fraudulentos falavam, uma ou outra vez, com o coração nas mãos, mas com o mesmo rosto dissimulado, para fazer crer que estavam embaçando os outros.
A descoberta assombrou o Diabo. Meteu-se a conhecer mais diretamente o mal, e viu que lavrava muito. Alguns casos eram até incompreensíveis, como o de um droguista do Levante, que envenenara longamente uma geração inteira, e, com o produto das drogas socorria os filhos das vítimas. No Cairo achou um perfeito ladrão de camelos, que tapava a cara para ir às mesquitas. O Diabo deu com ele à entrada de uma, lançou-lhe em rosto o procedimento; ele negou, dizendo que ia ali roubar o camelo de um drogomano; roubou-o, com efeito, à vista do Diabo e foi dá-lo de presente a um muezim, que rezou por ele a Alá. O manuscrito beneditino cita muitas outra descobertas extraordinárias, entre elas esta, que desorientou completamente o Diabo. Um dos seus melhores apóstolos era um calabrês, varão de cinqüenta anos, insigne falsificador de documentos, que possuía uma bela casa na campanha romana, telas, estátuas, biblioteca, etc. Era a fraude em pessoa; chegava a meter-se na cama para não confessar que estava são. Pois esse homem, não só não furtava ao jogo, como ainda dava gratificações aos criados. Tendo angariado a amizade de um cônego, ia todas as semanas confessar-se com ele, numa capela solitária; e, conquanto não lhe desvendasse nenhuma das suas ações secretas, benzia-se duas vezes, ao ajoelhar-se, e ao levantar-se. O Diabo mal pôde crer tamanha aleivosia. Mas não havia duvidar; o caso era verdadeiro.
Não se deteve um instante. O pasmo não lhe deu tempo de refletir, comparar e concluir do espetáculo presente alguma coisa análoga ao passado. Voou de novo ao céu, trêmulo de raiva, ansioso de conhecer a causa secreta de tão singular fenômeno. Deus ouviu-o com infinita complacência; não o interrompeu, não o repreendeu, não triunfou, sequer, daquela agonia satânica. Pôs os olhos nele, e disse:
- Que queres tu, meu pobre Diabo? As capas de algodão têm agora franjas de seda, como as de veludo tiveram franjas de algodão. Que queres tu? É a eterna contradição humana.
Fonte: Contos Consagrados - Machado de Assis - Coleção Prestigio - Ediouro - s/d.
Estatuto do Clube do Livro Nº1 de Vitória
Da Denominação, Sede, Duração e Finalidades
Art.1º - O Clube do Livro Nº1 de Vitória, fundado na cidade do mesmo nome – ES, em 02 de outubro de 1997, é uma associação cultural sem cunho político-partidário, terá prazo de duração indeterminado e reger-se-á pelo presente Estatuto.
Art.2º - O Clube do Livro Nº1 de Vitoria tem como objetivos o aprimoramento cultural, a integração e a socialização de seus membros, unidos em torno de um prazer comum.
Art.3º - O Clube do Livro reunir-se-á ordinariamente, de março a dezembro, às segundas quintas-feiras, de cada mês, na sede da Aliança Francesa de Vitória.
Parágrafo único - As reuniões poderão ocorrer em outro local, desde que aprovado pelo grupo.
Art.4º - As reuniões mensais ordinárias do Clube do Livro terão como finalidade básica a discussão de um livro indicado por uma das associadas e aceito pelo grupo, podendo contar com a participação de convidados e palestrantes.
Art.5º - O Clube poderá, eventualmente, colaborar com entidades filantrópicas, regularmente constituídas, desde que as doações sejam aprovadas pelos sócios.
Parágrafo único - A entidade beneficiada deverá apresentar recibo ao tesoureiro (a).
Da Admissão e Exclusão de Sócios
Art.6º - Vagas abertas por desistência ou exclusão poderão ser preenchidas por pessoas que atendam as seguintes exigências: ser indicado por um associado, participar de uma reunião, aceitar os termos do estatuto e receber a aprovação dos demais associados.
Parágrafo primeiro - caso haja mais de um candidato para a vaga, a escolha será feita pelo voto secreto.
Parágrafo segundo - As indicações de novos sócios deverão ser feitas no mês posterior ao desligamento do sócio.
Art.7º - Licença temporária, por motivo justo, poderá ser concedida ao sócio que a requerer, conforme deliberação do grupo.
Parágrafo único - Enquanto durar o afastamento, a vaga poderá ser ocupada por outra pessoa.
Art.8º - O desligamento do Clube por opção do associado deverá ser comunicado à Diretoria, por escrito.
Art.9º - A exclusão do associado, quando o mesmo não se adequar às normas previstas neste estatuto, poderá ocorrer conforme decisão da maioria da assembléia.
Art.10 - Não serão admitidos mais do que 25 associados
Dos Direitos dos Sócios
Art.11 -. São direitos dos sócios:
a) Candidatar-se a cargos eletivos.
b) Participar da escolha da Diretoria e de novos sócios.
c) Apresentar sugestões e medidas úteis aos interesses do Clube.
d) Levar um convidado à reunião, desde que avise previamente a Diretoria.
e) Participar da escolha do livro do mês, através do voto.
Dos Deveres dos Sócios
Art.12 - São deveres dos sócios:
a) Cumprir as disposições deste Estatuto e os regulamentos baixados.
b) Desempenhar, com eficiência, as funções para as quais forem eleitos ou designados.
c) Assumir o pagamento da mensalidade, estipulada anualmente pela assembléia, nos meses de funcionamento do Clube: março a dezembro.
d) Atualizar endereços, inclusive eletrônico, e números de telefone.
e) Responsabilizar-se pela indicação do livro do mês, pelo lanche e pela palestra e/ou debate, em conformidade com o cronograma anual.
Parágrafo único: para se resguardar o direito de escolha, recomenda-se a indicação de pelo menos duas obras literárias.
f) Ler o livro indicado para o mês e participar do debate.
g) Comparecer às reuniões mensais.
Parágrafo primeiro - Caso a falta seja inevitável, avisar previamente à Secretária ou a outro membro da Diretoria.
Parágrafo segundo – As faltas estarão limitadas a quarenta por cento do total das reuniões do ano em curso.
Da Administração
Ar. 13 - O Clube do Livro nº 1 de Vitória será administrado por uma Diretoria não remunerada, com mandato de dois anos, constituída por Presidente, Vice-Presidente, Diretor Social, Secretário e Tesoureiro.
Parágrafo único – Os membros da diretoria poderão ser reeleitos por mais dois anos.
Art. 14 - A eleição será realizada durante a reunião do mês de outubro, com o quorum mínimo de 2/3 dos sócios. Não havendo quorum, será feita com qualquer número de sócios presentes, trinta minutos após a primeira chamada.
Art. 15 - Compete ao Presidente:
a) Presidir as reuniões.
b) Zelar pelo cumprimento do presente Estatuto.
c) Delegar poderes a terceiros.
d) Representar o Clube.
Art. 16 - Compete ao Vice-Presidente:
a) Auxiliar o Presidente em suas funções.
b) Substituir o Presidente quando necessário.
Art.17 - Compete ao Diretor-Social:
a) Responsabilizar-se pela coordenação de eventos festivos.
b) Formar comissões para auxiliá-lo na programação e na execução de eventos.
Art.18 - Compete ao Secretário:
a) Secretariar as reuniões e lavrar atas.
b) Atender o expediente em geral.
c) Redigir a correspondência do Clube.
d) Preparar o cronograma anual de atividades.
Art.19 - Compete ao Tesoureiro:
a) Receber e controlar os recursos financeiros do Clube.
b) Assinar cheques e documentos relativos à função.
c) Contabilizar receitas e despesas.
d) Apresentar o balanço anual.
Da Reformulação do Estatuto:
Art.20. O presente Estatuto poderá ser reformulado, no todo ou em parte, quando necessário, por deliberação da maioria absoluta dos sócios.
Da Dissolução do Clube:
Art.21. Embora o prazo de funcionamento seja indeterminado, o Clube poderá ser dissolvido pela maioria absoluta dos sócios.
Art.22. Deliberada a dissolução, o valor correspondente ao saldo em caixa, na ocasião da dissolução, será revertido para o Centro Educativo Santa Rita, localizado na Rua Agenor Caetano, s/n, Morro são Benedito, Vitória, ES, sob a inscrição CGC/MF nº 31795.321/0002-34
Disposições Gerais
Art.23. O Clube do Livro poderá apoiar a criação de clubes similares, passando adiante sua experiência quanto à organização e ao funcionamento, visando à formação de novos leitores.
Art.24. A mensalidade, obrigatória, inclusive para os sócios ausentes, será revertida para o Fundo de Reserva do Clube.
Art. 25. O pagamento das contribuições terá início um mês após a admissão do sócio.
Art. 26. O presente Estatuto, reformulado e aprovado na reunião do dia __________entra imediatamente em vigor